O brasileiro viu seu custo de vida aumentar significativamente ao final de 2020 devido à expansão dos preços num contexto em que a pandemia de COVID-19 já vinha impondo a perda ou estagnação da renda para muitas famílias.

Especialistas avaliam que, neste início de ano, a inflação deve comprometer ainda mais o orçamento familiar, pois estão previstos novos reajustes nos planos de saúde, nos aluguéis e em itens que fecharam o ano passado em queda, como os combustíveis.

A pressão nos preços dos alimentos também deve persistir, uma vez que a demanda interna continua aquecida. Além disso, como é comum em janeiro, vários gastos familiares se acumulam e, geralmente, são acompanhados de correções, como é o caso do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e das contribuições para os órgãos de classe.
 
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no país, fechou 2020 acumulado em 4,52%.

Mesmo abaixo do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o ano, que era de 5,5%, o indicador foi o maior desde 2016. Um dos principais impactos para os consumidores em 2020 foi a elevação de 14,09% nos preços de alimentos e bebidas, a maior expansão desde 2002.
 
Para o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a alta nos preços dos alimentos foi um movimento global durante o ano passado, como consequência da pandemia de COVID-19.

Ele explica que inflação no preço dos alimentos é resultado do aumento da demanda mundial e de um novo ciclo de desvalorização cambial, em que o real se enfraqueceu perante o dólar, impactando o preço das commodities, cotadas na moeda americana.
Ao divulgar a inflação de 2020, o IBGE expôs a disparada nos preços vários itens, como óleo de soja, que fechou o ano em média 103,79% mais caro, e o arroz, que teve aumento de 76,01% em 2020.

Outros itens importantes na cesta das famílias também subiram expressivamente, entre eles, o leite longa vida (26,93%), frutas (25,40%), carnes (17,97%), batata-inglesa (67,27%) e tomate (52,76%).
 
“Quem vai ao supermercado e faz compra percebe que os alimentos subiram muito. Muito além dos últimos anos”, ratifica Marcos Amaral, de 53 anos, analista de sistemas da área educacional. Ele mora em Belo Horizonte com a esposa, que é confeiteira autônoma, o filho de 2 anos e o enteado de 16. Funcionário do setor privado com carteira assinada, Amaral permaneceu trabalhando durante a paralisação da pandemia, mas não teve reajuste salarial para este ano. “Meu poder de compra se reduziu bastante, pois o custo de vida aumentou, mas o salário não acompanhou”, afirma.

CESTA BÁSICA


Na capital mineira, o valor da cesta básica, que representa os gastos de um trabalhador adulto com a alimentação, chegou a R$ 566,80 em dezembro passado, valor 22,09% superior ao mesmo mês de 2019, segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG), que acompanha os índices de preços na capital mineira.

A tarifa de energia elétrica residencial, que subiu 10,10%, também contribuiu para o aumento nas despesas das famílias no último mês do ano.
 
Para a economista coordenadora do IPCA de BH no Ipead, Thaize Martins, as perspectivas são incertas para 2021, uma vez que a dinâmica da pandemia continua sendo fator preponderante para o desempenho econômico.

Ela credita à pandemia a mudança no comportamento do índice de preços em 2020 e não vê alteração em curto prazo. Para Thaize, além da inflação, a quantidade de contas em janeiro faz o consumidor brasileiro olhar com pessimismo para este início de ano.
 
“Os alimentos tiveram uma forte alta no ano e isso tende a continuar no início de 2021, uma vez que ainda é esperada uma pressão, devido à demanda interna aquecida, além de novos reajustes de planos de saúde e outros itens que fecharam o ano passado em queda, como o combustível. A inflação de janeiro deverá ser alta, como em todo ano, mas ainda mais pressionada do que nos últimos períodos”, observa a economista.