O Tribunal de Contas da União (TCU) informou aos membros da Comissão Mista de Orçamento que está trabalhando em uma instrução normativa que vai permitir a fiscalização das emendas parlamentares individuais, do tipo “transferências especiais”, que são feitas para estados e municípios.
Estas emendas feitas ao Orçamento da União, no formato atual, foram criadas em 2019 pela Emenda Constitucional 105 e passaram de R$ 600 milhões em 2020 para cerca de R$ 7 bilhões neste ano.
Na audiência, consultores orçamentários do Congresso lembraram que as transferências especiais foram criadas a partir de uma frustração com a demora na liberação das transferências com finalidade específica, por meio de convênios. As especiais, chamadas de “emendas pix” por alguns convidados da audiência, permitiram uma transferência mais rápida, sem a necessidade de convênios ou projetos específicos.
Para a deputada Adriana Ventura (Novo-SP), como o valor destas emendas já chega a 31% do total das emendas individuais, ficou mais urgente a criação de um sistema de fiscalização.
“É interessante perceber que metade dos recursos que são destinados em transferências especiais está concentrado em menos de 10% dos municípios. E outro ponto muito relevante é que a destinação desses recursos, ou como o dinheiro foi aplicado, o dado não é público. Ninguém sabe, ninguém viu”, disse.
Na opinião de Adriana Ventura, a fiscalização das transferências relativas às emendas individuais tem que ser implementada logo, porque já existe uma movimentação de parlamentares para fazer este tipo de repasse com emendas de bancadas estaduais.
Fiscalização dividida
O chefe da representação do TCU no Rio Grande do Sul, Guilherme de Souza, disse que, em março deste ano, o tribunal decidiu que a fiscalização da execução dos recursos deve ser feita pelos tribunais de contas estaduais e municipais porque, com a transferência sem contrapartidas, o dinheiro passa a ser dos entes federados.
O TCU ficará apenas com a fiscalização das condicionantes legais para a liberação das emendas, que são a proibição para pagamento de pessoal ou dívida e a aplicação de 70% em investimentos.
Segundo Guilherme de Souza, na instrução normativa que vai regular a decisão do TCU vai constar que os dados terão que ser colocados no sistema TransfereGov. Também será feito um acordo de cooperação técnica entre TCU, Controladoria-Geral da União e tribunais de estados e municípios para troca de informações.
Para o consultor de Orçamento do Senado, Fernando Moutinho, na prática, não é possível saber em que foi gasto o dinheiro quando ele cai na conta da prefeitura ou do estado. Isso porque a autoridade local pode pagar pessoal com os recursos e indicar obras já constantes do orçamento local como pagas com o dinheiro.
Fernando Moutinho questiona a constitucionalidade das transferências especiais pelo fato de que recursos federais podem ser usados para finalidades que seriam de competência de outro ente federado. Ele afirmou que a fiscalização terá mesmo que ser feita por meio de plataforma automatizada.
“São milhares de desembolsos individuais fragmentados. Milhares mesmo. Algumas milhares de transferências financeiras da União para o ente e algumas dezenas ou centenas de milhares de pagamentos individuais do ente com esse dinheiro. Não dá para trabalhar isso em fiscalizações tradicionais”, afirmou.
Dúvidas
O presidente do Tribunal de Contas do Paraná, Fernando Guimarães, disse que o órgão está analisando alguns processos sobre as transferências, mas que ainda restam dúvidas.
“Algumas das condicionantes se confundem com a própria execução de aplicação dos recursos. Então ficaríamos restritos à legalidade e conformidade da despesa? E não à finalidade específica?”, questionou.
O consultor de Orçamento da Câmara Dayson de Almeida disse que é importante dar transparência às transferências especiais para avaliar as prioridades de políticas públicas.
“A sociedade fica de certa forma tolhida no exercício do seu dever cívico de controle social, uma vez que não se sabe em que área da política pública aquele recurso vai ser aplicado, de antemão”, afirmou.
Em 2023, segundo dados compilados pelas consultorias do Congresso, o governo liberou até agora apenas recursos relativos a transferências não pagas do Orçamento de 2022, em torno de R$ 3 bilhões.
Reportagem – Silvia Mugnatto
Edição – Ana Chalub
Fonte: Agência Câmara de Notícias
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