É preciso zerar o desmatamento e replantar as florestas para conter crise hídrica

Notícia publicada em 30/08/2021

Na primeira reunião temática da recém-criada Frente Parlamentar Ambientalista do Paraná o assunto foi “Crise Hídrica no Paraná: Como Enfrentar?” e reuniu, na terça-feira (24), de forma on-line, vereadores e vereadoras de Curitiba, Colombo, Maringá, Cascavel e Guaratuba, pesquisadores e representantes da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná) e da Fundação SOS Mata Atlântica.

Com o objetivo de conversar sobre como enfrentar e superar o grave problema da crise hídrica que aflige milhões de paranaenses, os participantes foram praticamente unânimes quanto ao diagnóstico de como se chegou a atual situação de falta de água, que ameaça o abastecimento e a produção de energia no Paraná.

Vale lembrar que, desde o dia 5 de agosto, está em vigor o decreto 8.299/2021, que estende para todo o Paraná a situação de emergência hídrica, que até então era válida apenas para a Região Metropolitana de Curitiba e o Sudoeste. O novo decreto é válido por 90 dias.

Sem florestas não tem água – Diante desta conjuntura, os participantes reforçaram o consenso determinado pelas pesquisas científicas da relação entre desmatamento e os episódios de secas que ocorrem no país com mais frequência e maior intensidade.

“Nós precisamos de medidas de curto, médio e longo prazo. Está mais que evidente que é preciso zerar o desmatamento pra ontem e replantar as florestas. Precisamos ir além das medidas paliativas que são tomadas hoje pelos gestores públicos, como o racionamento no abastecimento de água”, criticou o deputado estadual Goura (PDT).

“Precisamos, sim, recuperar a cobertura florestal do Estado do Paraná. Sem Florestas, não teremos água. Sem a recuperação da vegetação e a devida fiscalização do desmatamento nós não teremos água para o povo paranaense. Simples assim: Não teremos água para o abastecimento da população”, enfatizou Goura.

Ele lembrou aos participantes que encontrou recentemente uma citação de uma mensagem enviada à Assembleia Legislativa, feita em 1936, pelo então interventor Manoel Ribas, onde ele alerta para as graves consequências, que já se percebia, com o desmatamento desenfreado das florestas do Paraná. “Há quase 100 anos atrás Manoel Ribas falava da necessidade de se proteger as florestas e combater o processo de desertificação.”

Goura também criticou o modelo de agricultura extensiva que também tem provocado essa desertificação. “Precisamos combater os desertos verdes, a monocultura, que usa de forma intensiva agrotóxicos, fertilizantes e degradam o solo e destroem as florestas.”

Segundo ele, este modelo de agricultura não traz a produção da água e é uma das causas que provocam o desmatamento e por consequência a crise hídrica. “Nós precisamos fomentar uma nova matriz agrícola no estado do Paraná. Numa perspectiva mais ampla de recuperação da biodiversidade precisamos nos voltar para a agroecologia”, disse.

“Temos que fomentar o que o Paraná já tem muito forte que é a produção de orgânicos, a produção agroecológica. Precisamos de políticas públicas que fortaleçam a agroecologia. A agroecologia pode produzir um futuro sustentável para todos nós”, disse Goura.

Sanepar – Na sequência do debate, o diretor de meio ambiente e ação social da Sanepar, Julio Gonchorosky, tentou justificar a atual situação como sendo uma consequência de uma série de fatores e reconheceu que a falta da preservação das florestas é uma das principais.

“Para garantir água para Curitiba e Região Metropolitana é preciso preservar a Serra do Mar. Sem isso, teremos uma situação muito grave nos próximos anos. É preciso fazer o mesmo com os mananciais do interior do estado”, afirmou.

Participantes – “Desde os anos 90 (1990), quando se constatou que a questão da água era um problema mundial, já sabíamos da necessidade da preservação ambiental para se garantir o abastecimento de água”, disse o professor Francisco Mendonça, titular da UFPR e um dos coordenadores do LaboClima/UFPR.

“A cada hora é destruída uma área equivalente a um campo de futebol no bioma Mata Atlântica”, alertou Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica. “Isso impacta diretamente a produção de água e sem zerar esse desmatamento o problema só tende a piorar até ficar insustentável abastecer a população e o setor produtivo.”

A vereadora de Maringá, Ana Lucia Rodrigues (PDT), lembrou que a crise hídrica se agravou nos últimos anos por conta do rápido processo de urbanização que o Paraná passou. “A partir dos anos 50 (1950), tivemos um processo gigante de urbanização e não tivemos uma política voltada ao interesse comum de desenvolvimento integrado. O resultado é a falta de governança intermunicipal na gestão dos mananciais, por exemplo”, criticou.

O desafio, segundo o vereador de Colombo Anderson Prego (PT), para enfrentar a crise hídrica passa pela criação de políticas públicas municipais. “O problema da água mostra claramente como a falta de integração metropolitana pode afetar a vida das pessoas. Sem a gestão integrada dos mananciais, sem políticas de uso racional e de conscientização a água vai faltar e continuará faltando no futuro”, alertou.

“Apesar de Cascavel ser conhecida como ‘Cidade das Águas’, não temos na realidade uma situação de abundância de oferta de água. Cascavel não tem cuidado das suas águas. Os mananciais estão no limite e contaminados. Para piorar, faltam políticas públicas para reverter esta situação”, denunciou a vereadora de Cascavel, Liliam Borges Porto (PT).

Apesar da Região do Litoral Paranaense não enfrentar uma situação grave por causa da crise hídrica, o vereador de Guaratuba, Fabiano da Caieiras (PSD), disse que é preciso se atentar ao problema da falta de água e propor políticas públicas. “O desmatamento, por exemplo, é um problema sério a ser enfrentado, principalmente, nas Unidades de Conservação”, disse.

O vereador de Curitiba, Marcos Vieira (PDT), destacou que a questão ambiental tem que ser a pauta mais importante e ser transversal às outras áreas de políticas públicas. “Sem isso, não temos políticas que tenham relevância e se aplica diretamente à preservação e recuperação ambiental, que acontece na realidade nos municípios”, afirmou.

 

 

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